O site mediaindependentes.pt é um primeiro passo para unir os vários projectos independentes de comunicação social que têm vindo a brotar em Portugal e que se encontram dispersos. Daqui podem surgir novas colaborações e nascer novas oportunidades.

A aventura surgiu como um desafio pessoal durante o confinamento, em Abril. Discutiam-se os apoios do Governo à comunicação social no contexto da pandemia de Covid-19 que deixavam de fora os meios independentes. Sem uma voz expressiva, estes sentiram-se imediatamente desapoiados pelo Estado, que deveria cuidar de todos por igual e olhar especialmente para os que têm menos recursos. Alguns destes órgãos de comunicação social juntaram-se em editoriais ou iniciativas conjuntas, outros procuraram chegar ao diálogo com representantes políticos, unindo esforços no sentido de ganhar essa voz.
No entanto, essas diferentes iniciativas acabaram por mostrar um sector disperso e sem capacidade de união. Seja porque não existe partilha de contactos, seja porque existe desconhecimento de todos os projectos que existem ou porque as linhas que definem a independência são ténues, os chamados media independentes em Portugal não conseguiram reclamar o seu espaço numa altura em que, como muitas poucas vezes, se falou da importância da comunicação social e da relevância do jornalismo na esfera pública.
Este presente portal, MediaIndependentes.pt, que agora é oficialmente lançado, não pretende ser uma sindicalização desta nova, ampla e efervescente geração de órgãos de comunicação social em Portugal cujas redacções detém os meios de produção. Este novo espaço online objectiva, sim, ser um ponto de encontro entre os diferentes projectos que existem neste sector e um veículo de divulgação desses mesmos media para fora dos círculos de cada um. Daqui podem surgir novas colaborações e nascer novas oportunidades.
O MediaIndependentes.pt visa, por um lado, explicar o que são “media independentes” e esclarecer que esta designação de “media independentes” não tem que ver com a isenção dos jornalistas, mas com quem controla o órgão de comunicação social. Por outro, organiza e lista os principais media independentes existentes em Portugal (“Na Montra”), bem como aqueles projectos que, mesmo não sendo formalmente órgãos de comunicação social, vale a pena seguir neste momento (“Na Estante”). Publica-se ainda uma lista o mais completa possível de todas as iniciativas formais e informais que existem nesta área.
Encontrar critérios objectivos como o registo na Entidade Reguladora Para A Comunicação Social (ERC), a única entidade em Portugal com competências para reconhecer um órgão de comunicação social como tal, para estruturar e categorizar os media independentes neste site acabou por ser uma tarefa difícil e injusta. A busca por melhores critérios tornou o parto deste site demorado. Na impossibilidade de encontrar tais linhas objectivas, optou-se por uma curadoria de todo o conteúdo.Essa curadoria é assumida pelo autor voluntário deste sítio – Mário Rui André, 27 anos, co-fundador do Shifter – mas tudo o que aqui é apresentado pode ser discutido e contestado através do endereço mail@mediaindependentes.pt.
Pretende-se que este MediaIndependentes.pt que agora é apresentado seja uma primeira versão de algo que em conjunto podemos construir. Não se sabe ainda bem como nem para onde ou como este portal poderá evoluir, mas esse mar de incertezas torna esta aventura ainda mais aliciante. Na secção Novidades, serão dadas notícias sobre o meio para que, fora dos feeds habituais e num espaço centralizado, seja possível acompanhar o que os vários órgãos estão a fazer. Existe ainda uma área de Sugestões com dicas de livrarias e de outros espaços para quem gosta de jornalismo e o valoriza. Já no final da página inicial é possível assinar a newsletter dos media independentes e aderir à Comunidade no Slack.
Os apoios anunciados em Abril (ou o adiantamentos de verba publicitária, como lhes quisermos chamar) foram orientados para as empresas de media, não para os jornalistas. E foram orientados só para algumas empresas. A informação, neste caso, o jornalismo, é uma arma essencial no combate ao populismo, contribuindo para uma sociedade mais capaz de tomar decisões, mais consciente do mundo que a rodeia e mais crítica. No entanto, Portugal é um dos países onde a comunicação social é mais desvalorizada e a literacia mediática é menor – o jornal mais vendido é o Correio da Manhã. Os media independentes são projectos que, geralmente, nasceram com a internet. São órgãos colectivos, horizontais, cooperativos, não ligados a grandes grupos de media, políticos, organizações ou empresas, e com menos recursos.
Urge ao Governo olhar para a comunicação social com olhos de ver e começar a criar um quadro de medidas que estimule a inovação, preserve o jornalismo não corporativo e permita que os novos media consigam aceder ao espaço mediático, sem serem vedados pelos grandes grupos. A sociedade beneficia do jornalismo, da diversidade de órgãos, de vozes e de abordagens. Os independentes fazem e devem fazer parte dessa dinâmica.