Revista Variações: música para variar

Dar a conhecer a música portuguesa, o melhor dela, foi o objectivo da Revista Variações desde o seu início em 2019. Falámos com Teresa Colaço, que assume a direcção desta publicação.


Vão buscar o nome a António Variações e o trocadilho fazem-no aludindo à falta de variedade na imprensa musical nacional. Mas querem fazer diferente. Para começar, a Revista Variações é em papel – uma pequena zine bimestral que é complementada com uma edição online em constante actualização. Depois de um interregno, influenciado pela própria paragem da cultura, a Revista Variações volta a editar. O número 8 colocou Samuel Úria e Benjamim à conversa sobre os seus novos discos lançados em Setembro.

“Quando decidimos voltar às edições em Setembro/Outubro, pensei logo nos novos discos do Samuel Úria e do Benjamim como óptimos pretextos para um artigo de capa, por isso quando surgiu a ideia de os juntar para uma conversa tentámos ao máximo que fosse possível. Felizmente eles também acharam que era uma ideia gira, e acho que ficou muito fixe”, conta-nos Teresa Colaço, que assume a direcção da Variações. “É pena o tamanho da revista não permitir ter toda a conversa, mas já está disponível no nosso Patreon e estará também no nosso site, mais tarde.”

“De resto, falámos com os Norton sobre o novo disco deles. São uma banda diria que já icónica no meio independente nacional, iam lançar um novo disco seis anos depois do último mesmo no final de Março. Acabaram por arriscar e lançar o disco no Verão, e foi uma bela surpresa”, descreve Teresa a propósito ainda deste oitavo número. “Na nossa habitual rubrica ‘Em Ascensão’ apresentamos a Beatriz Pessoa, que tem música nova e vai ter um espectáculo bem interessante em Novembro em Lisboa e Porto, e estreámos uma secção de entrevistas rápidas com a menina-prodígio do hip hop tuga, a Nenny. Depois temos também as habituais críticas a discos e a reportagem do concerto de Filipe Sambado, no CCB.”

Dar a conhecer a música portuguesa, o melhor dela, foi o objectivo da Revista Variações desde o seu início em 2019 – “porque não a queremos ver morrer no silêncio dos meios de comunicação” e porque “a música cresce a passos largos e merece cada vez mais atenção”, como escreve a equipa da Variações, um colectivo bem jovem de amantes de música, no seu manifesto. Oito números depois, a Variações procura agora a sua profissionalização e sustentabilidade. “Nós não fazíamos ideia de como se fazia uma revista, muito menos de como a vender, por isso todo o processo tem sido de aprendizagem e tentativa-erro”.

O Patreon é uma das formas de apoiar a Variações. Apesar de ser possível adquirir cada número por 2 ou 3 euros através do site da revista, o Patreon é uma espécie de subscrição que permite receber a revista por correio, aceder a conteúdo extra e ao mesmo tempo contribuir para os custos do projecto. “Conseguirmos ter uma base de vendas fixa e a partir daí ver entre encomendas soltas e vendas em loja se se justifica continuar com esta tiragem ou se teremos de adaptar”, explica Teresa. “Sabemos que a música portuguesa tem muitos apoiantes que vêem com carinho aquilo que estamos a fazer, sabemos também que, até certo ponto, interessa até à indústria que nós existamos. Mas vamos ver como correm as próximas edições e tirar conclusões. Uma coisa é certa, vamos tentar ao máximo que a revista não deixe de existir.”

O confinamento a que a pandemia de Covid-19 obrigou serviu para a Variações fazer uma pausa e reflectir sobre o projecto. “Quisemos ter tempo para olhar para o projecto com calma e avaliar que passo dar a seguir. Começámos com muita vontade de fazer acontecer muito rápido, até fizemos edições mensais durante alguns meses, por isso fez-nos bem parar um pouco. Na paragem organizamos melhor o funcionamento da equipa, decidimos aumentar o número de páginas, mudámos de gráfica, iniciámos o processo de registo na ERC, procurámos ter publicidade pela primeira vez, e a avançámos com o Patreon.” Tudo isto demorou tempo, talvez mais do que aquele que esperavam, até porque “todas as pessoas que fazem esta revista têm o seu trabalho ou os seus estudos em primeiro plano, por isso se já é complicado gerir tudo numa situação normal, quando aparece uma pandemia também não ajuda”.

Como é que nasceu a Variações? “Nasceu na minha cabeça há uns quatro ou cinco anos mas só se materializou em Abril de 2019. Desde muito miúda que fiquei obcecada por música e por querer ler tudo sobre os meus artistas favoritos, pelo que as revistas foram um fascínio quase natural”, conta Teresa Colaço. “A minha mãe tinha lá em casa umas revistas portuguesas antigas, tipo Música & Som, Mundo da Canção e assim. Quando a Blitz se torna revista em 2006 eu começo logo a devorar aquilo, a levar para a escola para ler às escondidas e assim.” Depois Teresa veio estudar para Lisboa e, como muitos jovens chegados à capital, descobre música nova por todos os cantos. Concertos, festivais, Antena 3, redes sociais. Teresa apanhou o boom mais recente da nova música portuguesa. “Fui conhecendo pessoas que tinham o mesmo interesse pela música nacional e que apoiaram a ideia do projecto.”

Apesar da panóplia de publicações digitais que existem sobre música, em papel não são muitas. “Aparecemos nessa altura em específico por uma data de coincidências mas também porque se abriu uma falha enorme quando a Blitz deixou de imprimir, passou a apenas haver uma revista impressa sobre música em Portugal, a Loud, que é focada num género muito específico de música”, refere Teresa. “Foi engraçado porque nesse mesmo mês aparecemos nós, a Jamm e a DØT Magazine, sem sabermos uns dos outros.”

Influenciada pela tradição das fanzines, a Variações pretende continuar a ser uma revista bimestral de pequeno formato, totalmente independente e inspirada no espírito DIY, pois todo o design, fotografia, texto e ilustração que publicam é original. A Revista Variações está disponível para encomenda através do seu site e também à venda em lojas em Lisboa, Porto e Caldas da Rainha. É também possível apoiar e assinar a revista através da plataforma Patreon.