A nomenclatura “média alternativos” é mais comum e consensual. A casa da nova geração de órgãos de comunicação social em Portugal tem um novo nome e endereço: MediaAlternativos.pt.

Quando decidi iniciar este projecto durante o confinamento de Março e o partilhei em Setembro, imaginei-o como algo dinâmico, que pudesse ser melhorado e completado ao longo do tempo, em conjunto com quem quisesse ajudar. No entanto, como um dos meus melhores amigos me apontou de imediato, estava a fazer este projecto antes de o pensar. Não discordo da crítica; em primeiro lugar, sou alguém que por natureza gosta de meter primeiro em prática e de teorizar depois; em segundo lugar, porque senti uma certa urgência em lançar a plataforma. É que a pandemia tinha acabado de lembrar a importância e a fragilidade do sector dos média em Portugal e, no debate que se fez sobre apoios do Governo à comunicação social, uma série de meios mais pequenos não foram considerados ou ouvidos pelos representantes políticos (ou sequer pelos seus pares).
Não hesitei em chamar a esta plataforma de Media Independentes (já vamos à acentuação de media e média). A designação de independentes é usada pela grande maioria dos órgãos para salientar a sua diferença em relação aos chamados média tradicionais ou de massas – ao contrário destes, não existe uma redacção dependente de uma administração ou de um grande anunciante; é a redacção quem controla efectivamente o meio e os direitos de publicação do título. O Fumaça, por exemplo, tem na sua assinatura “jornalismo independente, progressista e dissidente”. O Interruptor descreve-se como uma “revista multimédia independente”. O termo é usado também por outros projectos de relevo como o Shifter, o Divergente, o Gerador ou o Jornal Mapa.
No entanto, também os média tradicionais passaram a usar a nomenclatura “independente”, desta feita não para caracterizar a independência das redacções em relação aos meios de produção mas a independência da actividade jornalística em si – o termo começou a ser mais comum nas campanhas de angariação de assinantes. O recurso a uma mesma palavra com diferentes significados causa alguma confusão. Deveremos antes apelidar esta nova geração de órgãos de comunicação social em Portugal de “média alternativos”? Coloquei esta interrogação no nosso Slack e pesquisei sobre o assunto.
Notei imediatamente que o termo mais usado é, na verdade, o de Média Alternativos. Alternativos porque representam uma alternativa aos média tradicionais, sem tirar mérito a estes meios. Contam histórias que não passam nestes meios de maior alcance, propõem narrativas e formatos disruptivos e constroem comunidades próximas e participativas – talvez por isso também possam ser chamados de média comunitários. A designação ‘Média Alternativos’ não deve ser vista como depreciativa, representando, em vez disso, uma alternativa enquanto complemento aos meios, histórias e formas pré-existentes. Os média alternativos surgem com modelos de monetização diferenciadores ou muitas vezes sem fins lucrativos. Os média alternativos podem ser independentes; mas podem existir meios alternativos que não são independentes – fica do lado de cada projecto e do público caracterizar, questionar e definir a independência de cada interveniente, mas há uma certeza: este é um debate demorado, incompleto e com diferentes perspectivas. Afinal, o que faz de um órgão de comunicação social independente? Qual é ou quais são os critérios? É possível a independência financeira? Como se embrulha uma bolsa de um filantropo, um grande anunciante ou os donativos de uma audiência específica nesta discussão?
Fiz as alterações necessárias na plataforma Media Independentes para a nova designação: Média Alternativos (a acentuação na palavra “média” adaptar a versão portuguesa em vez do correspondente latim). As redes sociais reflectem já o novo username, presente também no site e num novo endereço – mediaalternativos.pt –, para o qual o antigo URL reencaminha. Pretendo que este projecto continue a evoluir – sem medo de se corrigir – e que este caminho continue a ser feito em conjunto com todos os que nele se queiram envolver. O MediaAlternativos.pt não pretende ser uma associação do sector, mas antes um portal que liste os projectos de comunicação social que servem de alternativa em Portugal, reúna a comunidade e apresente as principais novidades de cada meio.
Até já,
Mário Rui André