Jornal Mapa vem com um suplemento dedicado às “lutas pelo território”, encabeçadas pelas populações, contra a mineração e as monoculturas e em defesa dos rios.

A edição 29 do Mapa é para ler de Dezembro a Fevereiro e já pode ser encontrada de norte a sul do país nos vários pontos de distribuição deste jornal cooperativo de informação crítica. Neste número, em torno da luta das mulheres, revisita-se Emma Goldman, fala-se da economia feminista e soberania alimentar, das mulheres em luta pelos direitos das pessoas presas e dos direitos das mulheres grávidas em tempo de pandemia. Sem esquecer a revolução das mulheres na Polónia e a luta contra o femicídio no México.
O Jornal Mapa continua a sua cronologia da luta contra a mineração e dá atenção às manifestações por justiça climática e às hortas populares na escarpa das Fontainhas no Porto. Fala do “Novo Pacto” da União Europeia para as migrações, da autodefesa sanitária comunitária na favela de Paraisópolis, e conta com reflexões sobre a cidade em decomposição, a soberania rural, a relação do fascismo e a precariedade entre os trabalhadores ou a educação livre em tempos de Big Brother.

“Lutas pelo Território”
No suplemento, Marta Lança e Rita Natálio apresentam “Estratégias para acarrar: Terra Batida”, uma sumula do projeto de artes e intervenção em curso. Téofilo Fagundes lança “Uma perspectiva libertária sobre a Luta contra a Mineração”. Filipe Nunes dá conta de uma série de lutas em torno da poluição das águas e conta a história dos protestos desde a década de 1950 no Rio Alviela; reflecte ainda sobre as transformações da paisagem no Alentejo em “Devedores à Terra”. No âmbito das residências Terra Batida, Ana Rita Teodoro e Alina Ruiz Folini propõem um oráculo para “Ler Seres Vegetais” e religar alimento e afecto; Silvia das Fadas, a partir do anarquista Gonçalves Correia que lhe inspirou o filme Luz, Clarão, Fulgor, escreve uma “Carta aos Rurais. Defensores da Terra chamados a cuidar da Terra”; e Joana Levi, a propósito da performance Rasante, escreve sobre cegonhas em “Lixo Humano, Território Animal”.

O mote desta edição comporta em “território” o desafio de se ultrapassar a redutora dimensão ambiental dos conflitos, sublinhando o lado social e a capacidade transformadora que estes processos desencadeiam. Nas comunidades e na relação humana com a natureza, seja ela individual ou colectiva. No potencial de subverter hierarquias ou os primados cegos da economia industrial. Na possibilidade de se regenerar a paisagem a partir da participação plena e direta das pessoas e de observação atenta do que os demais seres nos comunicam, integrando esse saber natural no ato humano que é hoje uma «paisagem».
Este sentido de “lutas pelo território” lança ainda o desafio de ir além do nicho do activista ambiental e do corpo técnico que lhe é acoplado. Ambas as dimensões, do ativismo e da argumentação científica, não são despiciendas, longe disso, mas encerrar uma luta nesse círculo é condenar o seu verdadeiro alcance popular. O envolvimento das populações nas lutas de mineração é disso o exemplo mais recente de como as lutas pelo território comportam um significado que emerge para lá do conflito ambiental.
A edição suplementar do Jornal Mapa foi uma parceria com o projecto Terra Batida (Parasita e pela Buala) no âmbito do Festival Alkantara, em Novembro. São 16 páginas em torno das “lutas pelo território”, com uma capa ilustrada por Bego Claveira, que se somam às 48 da edição normal do Jornal Mapa. Tudo isto custa, como habitual, 1,5 euros. A assinatura pode ser feita por 6 euros.